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Mensagens do blog por Carla Santucci

Câncer de pâncreas: o que você precisa saber

Câncer de pâncreas: o que você precisa saber

Considerado um dos mais agressivos e letais, o câncer de pâncreas virou assunto com o diagnóstico do músico Tony Bellotto

 

No início de março, Tony Bellotto, 64, guitarrista dos Titãs, anunciou que foi diagnosticado com câncer de pâncreas. A notícia gerou preocupação porque a taxa de mortalidade apresentada pela doença é alta, já que ela é agressiva e silenciosa, o que dificulta a detecção precoce. O músico descobriu o tumor ainda em fase localizada, e deve fazer a cirurgia para removê-lo. O procedimento é considerado a melhor chance de cura hoje pelos especialistas. Em um check-up de rotina, um exame de ultrassom mostrou que havia um cisto no pâncreas de Bellotto. Posteriormente, testes complementares confirmaram o câncer. Felizmente, não foi detectada metástase.

O caso de Tony é raro. A maioria dos pacientes não conta com a vantagem de descobrir a doença em fase inicial, já que, por enquanto, não existem métodos eficazes de rastreio. Para o cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), a atenção aos fatores de risco, como obesidade, tabagismo, sedentarismo e histórico familiar é a principal ferramenta de combate a esse tipo de câncer.

A idade – da qual não dá para escapar – também é uma condição que aumenta a probabilidade do desenvolvimento da doença. Segundo dados do National Cancer Institute (NCI), dos Estados Unidos, 90% de toda a incidência da doença está em pacientes com mais de 55 anos. Embora não seja possível eliminar todas as chances de desenvolver o câncer de pâncreas, é importante manter hábitos saudáveis, como uma alimentação equilibrada e a prática regular de atividades físicas, para minimizá-las.

Com a ajuda do cirurgião oncológico Rodrigo Nascimento Pinheiro, da SBCO, reunimos as principais informações sobre a doença.

O que é câncer de pâncreas?

O pâncreas é um órgão que faz parte do sistema digestivo. A função dele é produzir enzimas digestivas e hormônios como a insulina, responsável pelo controle da quantidade de glicose no sangue. O câncer pancreático ocorre quando tumores malignos se desenvolvem nesta parte do corpo.

Por que a doença costuma ser tão agressiva?

O câncer de pâncreas costuma ter um prognóstico [previsão sobre as chances de evolução ou cura da doença, com base no diagnóstico] ruim. Isso acontece por diversos motivos, entre eles, as características biológicas de agressividade desse tipo de tumor. Além disso, no pâncreas, o câncer fica muito próximo a estruturas vitais, que permite que ele se espalhe de forma mais rápida, minimizando as possibilidades de tratamentos cirúrgicos eficazes. É um câncer silencioso, que não costuma apresentar sintomas nas fases iniciais. Quando surgem, os sinais são inespecíficos, o que pode atrasar a identificação da doença. Segundo dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca), embora represente 1% de todos os diagnósticos de câncer no país, o câncer de pâncreas responde por 5% do total de mortes pela doença.

Sintomas do câncer de pâncreas

Além de demorarem a aparecer, os principais sintomas do câncer são inespecíficos, o que, muitas vezes, atrasa o diagnóstico. Alguns deles são:

- Perda de peso

- Fraqueza

- Mal-estar

- Dores nas costas

- Náuseas

- Icterícia (olhos e pele amarelados)

- Urina escura

- Fezes esbranquiçadas

O diagnóstico do câncer pancreático

Além da avaliação clínica, o diagnóstico do câncer de pâncreas é feito com exames de imagem, como a tomografia computadorizada, assim como de uma endoscopia específica (chamada ecoendoscopia ou ultrassonografia endoscópica). Por meio desses exames é realizada também a coleta de material com punção. Com isso, é feita uma biópsia, que indicará se a lesão é cancerosa ou não.

Quais são as opções de tratamento?

O único tratamento capaz de oferecer cura para o câncer de pâncreas é a cirurgia. Outros procedimentos, como a radioterapia, podem ser usados antes ou depois, de acordo com o caso e com as recomendações médicas.

O desafio é que, em grande parte dos casos, o tumor já está em estágio avançado no momento do diagnóstico, o que não permite mais a abordagem cirúrgica como principal intervenção.

Quando a cirurgia não pode ser feita?

Dependendo do estágio da doença e das características do tumor, a intervenção cirúrgica não é recomendada. Isso pode acontecer por questão de tamanho e localização do tumor ou pelos riscos de comprometimento a estruturas vizinhas, principalmente vasos sanguíneos da região do pâncreas. Há também situações em que o paciente não tem condições físicas ou clínicas de ser submetido ao procedimento. No caso do câncer de pâncreas, segundo o médico, somente uma taxa de 15 a 20% dos tumores são passíveis de tratamento cirúrgico com efeito curativo. Quando a doença está disseminada, a cirurgia pode ser feita de maneira paliativa, com o intuito de amenizar os sintomas e evitar complicações.

Fatores de risco para o câncer de pâncreas

Os tumores decorrem de alterações genéticas, mas boa parte delas é causada por hábitos. Os três principais fatores de risco para qualquer tipo de câncer, incluindo o pancreático, são tabagismo, sedentarismo e obesidade. O consumo de álcool e de alimentos ultraprocessados também está relacionado com tumores do aparelho digestivo. Existem ainda as síndromes genéticas e o histórico familiar, além da questão do envelhecimento. Algumas situações mais raras, como pancreatite crônica e outras doenças inflamatórias do câncer também podem aumentar as chances do desenvolvimento de tumores. Há também uma associação com o diabetes. Quando a doença se desenvolve de forma repentina em idade avançada ou quando há uma piora inexplicada no controle da glicemia, exames para descartar o câncer de pâncreas podem ser recomendados.

Aumento dos casos de câncer em pessoas mais jovens

Embora a maioria dos cânceres de pâncreas seja detectada em pessoas mais velhas, os especialistas têm notado um aumento dos diagnósticos em populações mais jovens, abaixo de 50. Uma análise de dados do National Program of Cancer Registries, com cerca de 65% da população dos Estados Unidos, publicada no periódico científico The Lancet, sugere que a incidência de câncer de pâncreas entre indivíduos com menos de 55 anos está aumentando mais rapidamente do que naqueles com 55 anos ou mais. Os motivos ainda não estão claros. Embora a evolução dos registros e diagnósticos possa contribuir com esse crescimento, especialistas acreditam que a piora nos hábitos de vida, com mais sedentarismo e obesidade, por exemplo, também tenham um papel importante.

Existe rastreio para o câncer de pâncreas?

Por enquanto, não há um método eficiente de rastreamento, no caso do câncer de pâncreas, que permita aumentar as chances de diagnóstico precoce. Pessoas que fazem parte de um grupo de risco, como quando há histórico familiar, síndromes genéticas ou doenças prévias, podem fazer exames de imagem, mas, ainda assim, eles nem sempre são eficazes.

Pesquisas promissoras

Diversos estudos sobre o câncer de pâncreas têm surgido nos últimos anos, aprimorando as possibilidades de medicações e de tecnologias no tratamento. Uma das técnicas mais recentes, que têm sido usada de maneira inicial no tratamento do câncer de pâncreas e demonstrado boas respostas, é a ablação por radiofrequência via endoscópica.

Segundo o professor José Celso Ardengh, do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto (USP-RP), onde foram realizados dois procedimentos, e que também coordenou um deles no Hospital Moriah, em São Paulo (SP), a técnica utiliza ondas de calor para destruir as células cancerígenas, ajudando a estimular a imunidade dos pacientes contra essas células. “Ela é menos invasiva do que a cirurgia e pode controlar o crescimento do tumor, oferecendo uma esperança para pacientes que não podem ser operados ou que têm tumores que necessitam ser submetidos à quimioterapia antes da cirurgia”, explica. “O procedimento é feito com a ajuda de um endoscópio, um tubo fino e flexível, que é inserido pela boca até o pâncreas. Através desse tubo, é possível alcançar o tumor e aplicar calor controlado diretamente nele, destruindo suas células. A consequência dessa destruição celular associada ao estímulo à imunidade dos pacientes parece diminuir a massa tumoral”, resume. “O procedimento ainda não está amplamente disponível porque é relativamente novo e requer mais estudos para que se torne parte dos tratamentos padrão do câncer de pâncreas. No entanto, com mais pesquisas e a confirmação dos bons resultados iniciais, é possível que ele venha a ser incluído no futuro, ampliando o acesso”, diz ele.

 

Reportagem de Vanessa Lima para o portal Oncomonitor, publicada em 26 de março de 2025. Para verificar o conteúdo na íntegra, acesse: https://www.oncomonitor.com.br/prevencao-e-diagnostico/cancer-de-pancreas-o-que-voce-precisa-saber

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